Thursday, July 06, 2006

Agora é com você


Este poema que está aqui e agora,
Com você, leitor, no comando da imagem
Que a ela, palavra, se incorpora,
Quer ter asas em meio à bagagem

Ou mesmo um salto escuro sem demora,
Por abrupta e inesperada viagem
Que, como a vida, inédita se arvora
A quem voa e dá beleza à paisagem.

Tudo que aqui se diz pode não ser
O que em seu coração se pronuncia
Com sonho, vertigem e fantasia.

Porque ao poeta cabe só escrever
O que a ele e sua alma extasia:
Sentidos que ensinam a comover!


Comedor de Ranho


E o papagaio também disse “nunca mais”


Esse lírico licor que ao delírio
empresta som cor perfume e textura
é o sopro divino que me depura
destilando néctar do meu espírito.

Ao bebê-lo, se a mim pego pra cristo,
prego-me na cruz, fixo a atadura
e aceito o açoite como a mais pura
forma de santificar meu escrito.

Mas isso é só uma metáfora gasta
pelo excesso de uso e falta de escrúpulo
de poeta que ama o fácil e o sem graça.

Pra mim, soneto assim é só exercício,
em pé quebrado ou mesmo esdrúxulo,
que por não ter alma é só desperdício!

Comedor de Ranho



a minha vida de vocês

ainda que minha vida
caia podre sobre o mundo
sem festa de despedida
sem flor, sem choro profundo
não sintam por mim a dor
que eu mesmo nunca senti

fui só um sonhador
mas confesso que existi
e com tanta intensidade
que já não sei se sonhei
ou se vivi de verdade
a poesia que inventei


Comedor de Ranho